Como nada tenho eu
Deixo-vos investimentos
Tudo o que tenho de meu
O futuro sem lamentos
Mas não vos fieis de todo
Na ciência financeira
Ou ireis acabar no lodo
Morrer sem eira nem beira
E se não escapares à morte
Com um chuto no traseiro
Talvez vos chegue essa sorte
D'acabar num bom fumeiro
Ao presidente Marcelo
Pra que não venha chorar
Pé de meia e um chinelo
Quando a velhice chegar
Ao Costa o nosso primeiro
Um cigano pró jardim
Porque os sapos e o dinheiro
Engolem-se até ao fim
Finalmente
eles voltaram
De Castela
encarniçados
Nossos bancos
conquistaram
E fomos
colonizados
Para África
voltemos
Pr' Angola
mais propriamente
A falar os
entendemos
Retorno
d'antigamente
Tudo é questão de dinheiro
Mesmo até a obra santa
O povinho bem ordeiro
Com mais fervor ele canta
Os rapazes e as meninas
Os novos e os velhinhos
Estão felizes nas Caxinas
Ouvem melhor os sininhos
Para cortar a nortada
Construiu-se um edifício
A igreja assim abrigada
Valeu bem o sacrifício
Ao mercado pra valer
Deixo toda a minha vida
É tão raro alguém nascer
Pra morrer
logo em seguida
Santa Clara
monumento
Teve a obra
abreviada
Sofreu um
melhoramento
Já tem a cara
lavada
Ao Teatro Municipal
Um grandioso aviário
Pra podermos afinal
Ter o franguinho diário
Tudo era mais amável
Com o frango no espeto
Pessoal mais afável
Mais
sorridente e correto
Ao jornal cá da terra
Vou deixar uma gramática
Com tanta asneira qu'encerra
Nossa gente vira apática
À Indaqua um poço vou dar
E também três tesoureiros
Um poço para aumentar
As faturas dos matreiros
A esperança não morreu
A cultura está no ar
Presidenta prometeu
Que a todos ia chegar
Vem de longe para cá
Numa língua mais sambada
Mas vai-se embora para lá
Pouco fica quase nada
Aos voadores associados
Feitos de nuvem e sonho
Deixo abraços apertados
Um futuro mais risonho
Mais um ano passará
Outras chamas vão arder
Para o ano outro virá
Na fogueira se aquecer.
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