segunda-feira, 28 de março de 2016

Testamento do Judas

Como nada tenho eu
Deixo-vos investimentos
Tudo o que tenho de meu
O futuro sem lamentos

Mas não vos fieis de todo
Na ciência financeira
Ou ireis acabar no lodo
Morrer sem eira nem beira

E se não escapares à morte
Com um chuto no traseiro
Talvez vos chegue essa sorte
D'acabar num bom fumeiro

Ao presidente Marcelo
Pra que não venha chorar
Pé de meia e um chinelo
Quando a velhice chegar

Ao Costa o nosso primeiro
Um cigano pró jardim
Porque os sapos e o dinheiro
Engolem-se até ao fim

Finalmente eles voltaram
De Castela encarniçados
Nossos bancos conquistaram
E fomos colonizados

Para África voltemos
Pr' Angola mais propriamente
A falar os entendemos
Retorno d'antigamente

Tudo é questão de dinheiro
Mesmo até a obra santa
O povinho bem ordeiro
Com mais fervor ele canta

Os rapazes e as meninas
Os novos e os velhinhos
Estão felizes nas Caxinas
Ouvem melhor os sininhos

Para cortar a nortada
Construiu-se um edifício
A igreja assim abrigada
Valeu bem o sacrifício

Ao mercado pra valer
Deixo toda a minha vida
É tão raro alguém nascer
Pra morrer logo em seguida

Santa Clara monumento
Teve a obra abreviada
Sofreu um melhoramento
Já tem a cara lavada

Ao Teatro Municipal
Um grandioso aviário
Pra podermos afinal
Ter o franguinho diário

Tudo era mais amável
Com o frango no espeto
Pessoal mais afável
Mais sorridente e correto

Ao jornal cá da terra
Vou deixar uma gramática
Com tanta asneira qu'encerra
Nossa gente vira apática

À Indaqua um poço vou dar
E também três tesoureiros
Um poço para aumentar
As faturas dos matreiros

A esperança não morreu
A cultura está no ar
Presidenta prometeu
Que a todos ia chegar

Vem de longe para cá
Numa língua mais sambada
Mas vai-se embora para lá
Pouco fica quase nada

Aos voadores associados
Feitos de nuvem e sonho
Deixo abraços apertados
Um futuro mais risonho

Mais um ano passará
Outras chamas vão arder
Para o ano outro virá

Na fogueira se aquecer.

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